sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Diferenças entre as ações musculares concêntrica e excêntrico


Diferenças entre as ações musculares concêntrica e excêntricoin

Por Vandeir Gonçalves Silva
Introdução
A atividade locomotora é a combinação de diferentes formas de ações musculares, que também podem ser encontradas de forma isolada.
Na forma isolada temos três tipos de ações musculares diferentes: isométricas, concêntricas e excêntricas. Na forma combinada temos, por exemplo, um ciclo alongamento-contração, onde uma ação excêntrica precede imediatamente uma ação concêntrica, fato facilmente notado quando analisamos passos de uma caminhada ou a manipulação de algum objeto que nos cerca.
Entretanto existem várias diferenças entre ações musculares concêntricas e excêntricas, que repercutem de maneira diferenciada no organismo humano, fato que deve servir de fonte embasadora para a manipulação de variáveis durante a prescrição de atividades físicas para a população em geral, ou para a planificação do treinamento de atletas.
Ações musculares concêntricas ocorrem quando há o encurtamento de um músculo envolvido em determinado movimento (quando erguemos um peso). Ações musculares excêntricas ocorrem quando os músculos envolvidos no movimento alongam-se de forma controlada (quando abaixamos um peso). Ocorre uma ação muscular isométrica quando um músculo é ativado e desenvolve força sem causar movimento em uma articulação (1,2). Este modo de ação é à base da manutenção postural (3).
Apesar de definirmos aqui ações musculares isométricas, neste texto iremos tratar apenas a respeito das diferenças apresentadas entre ações musculares concêntricas e excêntricas.
Fisiologia neuromuscular
O tipo de ação muscular empregada oferece diferentes estímulos ao sistema neuro muscular. Estudos verificaram através de menor ação eletromiográfica, que ações excêntricas ativam um menor número de fibras musculares (4).
Menos unidades motoras recrutadas indicam que mais força por unidade de músculo é produzida, e menos estimulação neural é necessária para a realização do movimento, mostrando uma eficiência neuromuscular maior das ações excêntricas (4, 5). É sugerido que as adaptações neurais se dão de forma mais rápida quando se dá ênfase na fase excêntrica (6).
Menos unidades motoras recrutadas, usando o mesmo limiar de despolarização pode ser o fator responsável por este fenômeno (7). Este conhecimento pode ser usado, por exemplo, para a manipulação de variáveis durante a reabilitação de um membro lesionado.
Apesar desta maior eficiência neuro muscular, o treinamento com ênfase excêntrica não levará necessariamente a um maior ganho em força, pois a adaptação neuro muscular se dá de forma específica e diferenciada para ambas ações musculares (4).
Estudos falharam em mostrar superioridade para o treinamento com ênfase excêntrica em aumento de força superior ao treinamento tradicional (concêntrico-excêntrico) em sujeitos treinados. Grupos que treinaram de forma tradicional ou com ênfase na fase excêntrica, não mostraram diferença significativa em aumento de força entre grupos para os flexores do cotovelo, além de não apresentarem aumento de força isométrica também (6).
Já Dudley at al mostraram que maior ganho de força dinâmico ocorre quanto são usadas ações concêntrico-excêntricas em um programa de treinamento resistido (4).
Estes fatos mostram uma grande especificidade nos ganhos de força para cada tipo de ação muscular treinada como forma de resultado em se aprender a recrutar músculos para executar um tipo determinado de ação (1).
Regimes de treinamento que não oferecem um tipo de ação muscular podem não preparar este indivíduo para cargas específicas que ocorrem durante as atividades esportivas ou mesmo as atividades diárias (6).
Para as ações concêntricas temos então um maior recrutamento de unidades motoras, induzidas por uma maior ativação simpática, o que acarreta em uma demanda energética maior (5).
Bioquímica
Como já foi dito, um pequeno número de fibras é ativado para gerar força excêntrica em comparação à geração concêntrica. Alta carga em um número relativamente pequeno de fibras pode causar rupturas, acompanhadas de uma resposta inflamatória, com inchaço e dor (8).
Ações excêntricas repetidas podem causar danos ao músculo induzindo ulcerações temporárias, causando demora na recuperação e prejuízo transitório na produção de tensão, o que geralmente se manifesta depois de seis ou doze horas após a prática de exercícios e persiste por vários dias (8,3). A tensão gerada pelo alongamento, ou pela destruição de elementos passíveis, pode explicar o alto potencial para danos musculares das ações excêntricas (3).
Estas fibras são facilmente identificadas pelo alto nível de enzimas intramusculares encontradas no sangue durante os dias de exercício excêntrico e pela evidência histológica da ruptura de sarcômeros e do fluxo da linha Z dos músculos afetados (8).
Apesar do acima exposto, o pH não se mostrou diferente entre os modos de contração muscular (3).
Ações concêntricas induzem ao maior esforço metabólico dos três modos de ações musculares, associadas à ativação do metabolismo aeróbio, ocorrendo maior freqüência de hidrólise de ATP, contra uma menor síntese de ATP nas ações excêntricas (3).
Hormônios
Os hormônios, principalmente GH, testosterona e cortisol, são sensíveis ao estresse do treinamento resistido e exercem vários papéis no estado anabólico e catabólico de diferentes tecidos (como o muscular), incluindose a estimulação a síntese protéica. A magnitude com que isto ocorre, pode ser afetada pelo volume e intensidade do treinamento, grupamentos musculares envolvidos, seleção de exercícios, pelo tamanho do período de descanso entre as sessões e pelo tipo de ação muscular (4,5).
Um aumento agudo de GH foi significativamente maior seguido por um protocolo de treinamento concêntrico que em um protocolo de treinamento excêntrico, tendo permanecido elevado mesmo após quinze minutos. O acúmulo de íons de hidrogênio produzido pelo aumento de acidose pode ser um dos primeiros fatores influenciadores pela liberação de GH durante o treinamento resistido. Concentrações maiores de lactato foram encontradas em um protocolo de treinamento concêntrico (4).
A diferença no recrutamento de unidades motoras pode causar um estres neural diferente, que pode também afetar a magnitude da secreção de GH (4).
O GH esta envolvido no controle homeostático de variáveis dinâmicas, como as gorduras e as proteínas (4). Ainda assim, a administração de GH não se mostrou muito eficiente no aumento de tamanho ou de força muscular, apesar de hipoteticamente poder colaborar no processo de hipertrofia (ver GH – mitos e verdade). A testosterona se mostrou muito mais potente na estimulação do processo de hipertrofia (5).
Não foram encontradas diferenças significativas nos níveis de testosterona entre ações excêntricas e concêntricas, com cargas constantes (5), apesar de ser notado um pequeno aumento na testosterona total em relação aos níveis de repouso após um protocolo de treinamento concêntrico isocinético. Não foi encontrada diferença nos níveis de cortisol (4,5).
Considerações finais
Fica assim evidente o quão meticuloso pode ser o treinamento esportivo. O controle de variáveis aparentemente simples como as aqui expostas, podem levar a repercussões fisiológica, bioquímicas e hormonais bem distintas.
Não cabe dentro de uma abordagem sistêmica o controle de quaisquer variáveis, sem uma fundamentação que dê suporte ao ato. As diferenças aqui colocadas podem então facilitar ou mesmo nortear prescrições e intervenções, sempre na busca de uma maior e melhor qualidade no conhecimento do todo.
***Veja mais informações no livro “Bases Científicas do Treinamento de Hipertrofia”, do professor Paulo Gentil***
Referências bibliográficas
(1)FLECK, Steven J. e KRAEMER, William J; fundamentos do treinamento de força muscular. Ed. Artmed 2002.
(2)ZATSIORSKY, Vladimir M; ciência e prática do treinamento de força Ed. Phorte 1999.
(3)RYSCHON, T. W., FOWLER, M. D., WYSONG, R. E., ANTHONY, A. R., and BALABAN R. S. efficiency of human skeletal muscle in vivo: comparison of isometric, concentric, and eccentric muscle action. J. appl. Physiol. 83 (3): 867-874, 1997.

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